FALTA DE ÁGUA PODE PIORAR NO NORDESTE E EM SÃO PAULO, DIZEM ESPECIALISTAS

Marilia Coêlho

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Irani Ramos, o senador Wilder Morais e Vicente Guillo

A situação de abastecimento de água no semiárido brasileiro e na região metropolitana de São Paulo pode piorar entre 2014 e 2015. Foi o que afirmaram, nesta quarta-feira (4), o diretor-presidente da Agência Nacional de Águas, Vicente AndreuGuillo, e o secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, Irani Braga Ramos em audiência pública realizada pela Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI), sob a presidência do senador Wilder Morais (DEM-GO).

Requerida pelo senador Jorge Viana (PT-AC), a audiência pública teve como tema de debate a  escassez de água no país e as medidas para evitar o racionamento. Viana lamentou a ausência de representantes do Ministério das Cidades e da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

Os convidados da audiência mostraram que a situação de abastecimento de água tanto no semiárido nordestino como na região metropolitana de São Paulo pode piorar, pois a perspectiva é de pouca chuva para este ano. O senador Jorge Viana disse que teme uma grande crise em São Paulo e ressaltou que a sociedade tem que contribuir, evitando o desperdício de água.

– Se o problema da falta de chuva seguir em São Paulo, não tem saída. Vai ter mais do que racionamento, vai ter uma grave crise enfrentada. É a conclusão que eu tiro dessa audiência – disse.

Os senadores Inácio Arruda (PCdoB-CE) e José Pimentel (PT-CE) afirmaram que falta planejamento estratégico no Brasil para enfrentar os problemas de abastecimento de água. Inácio Arruda e Eduardo Suplicy (PT-SP) defenderam a obra da transposição do Rio São Francisco.

– Hoje é uma obra fascinante do ponto de vista da engenharia e um socorro que é dado ao Nordeste como garantia de que nós não vamos passar sede na nossa região. 12 milhões de pessoas não é pouca coisa – afirmou Inácio Arruda.

Água em São Paulo

Vicente Guillo explicou que, para o abastecimento de água da população, não basta apenas chover, mas a chuva tem que cair no lugar certo, ou seja, no reservatório. Ele apontou ainda a dificuldade de gestão do abastecimento de água devido à interligação entre rios e reservatórios estaduais e federais entre si.

— O potencial de geração de conflitos sobre essa questão é muito maior do que a eventual e positiva colaboração federativa. Nós achamos que nós precisaríamos de um arranjo na Constituição em relação a esse tema — opinou Guillo.

Guillo explicou que o complexo de reservatórios do Cantareira é formado por cinco reservatórios e responsável por quase 50% do abastecimento de água da região metropolitana de São Paulo. Segundo ele, o complexo de reservatórios que, em 2010 chegou ao seu máximo, inclusive causando enchentes, no final do ano passado até fevereiro de 2014, ficou vazio devido ao baixo volume de chuvas.

— No dia de hoje, o reservatório interligado dos rios Jaguari e Jacareí, o maior deles todos, chegou ao seu zero operacional. Então, a situação se agravou sobremaneira — disse.

O diretor presidente da ANA observou, no entanto, que o volume morto do complexo do Cantareira é diferente do volume morto da maioria dos reservatórios do Brasil, onde a água fica ali parada, sem uso. No caso do Cantareira, há duas saídas da água: uma superficial para o abastecimento da população e outra por baixo para abastecer os rios do Piracicaba, para a região de Campinas. Então, há uma grande circulação de água, inclusive no volume morto.

– Aqueles alertas, que são sempre positivos, de que esse reservatório tinha uma água parada, que o volume morto era uma água estagnada, sem circulação, não corresponde à realidade desse reservatório – disse.

Para Guillo, o problema de abastecimento de água de São Paulo teve três causas. A primeira foi a seca anormal, fora de qualquer padrão já registrado. A segunda seriam as obras não executadas no passado, como duas barragens na região de Campinas que não foram feitas porque apenas gerariam segurança hídrica. E a terceira, a ausência de uma regulação mais efetiva, com critérios objetivos.

Ele explicou que, no momento, a Sabesp propõe manter um fornecimento de água que seja confortável para a população. No entanto, há o risco de, se não chover no reservatório, a água não ser suficiente e a Sabesp ter de usar o volume morto.

— Na nossa visão, essa proposta precisa ser ponderada pela vazão afluente, ou seja, se chegar menos água, qual a consequência de se manter essa vazão de 31, essa retirada de 21 m3/seg para São Paulo? Vai ter como consequência, e isso está no próprio estudo da Sabesp, que a água existente no reservatório mais o volume morto de 180 m3não será suficiente – afirmou.

Semiárido nordestino

Em relação ao semiárido nordestino, Guillo disse que, dos 507 reservatórios existentes na região, monitorados pela ANA, quase 50% apresentam menos de 30% de sua capacidade. Ele explicou que a situação deste ano pode ser mais grave do que a do ano passado, pois os reservatórios não foram plenamente recuperados.

— Estamos chegando a uma situação, agora, em 2014, que é equivalente, na maioria dos casos mais graves, à situação que enfrentávamos no ano de 2013 para 2014, ou seja, há uma situação que merece um acompanhamento de toda sociedade brasileira — afirmou.

Além disso, o diretor presidente da ANA afirmou que as previsões meteorológicas não são boas, podendo haver o fenômeno climático do El Niño, que provoca seca nessa região.

O secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, Irani Braga Ramos, disse que, no semiárido brasileiro, em cerca de 600 dos 1.300 municípios, as chuvas serão menores do que a média histórica segundo dados preliminares dos meteorologistas.

Ele afirmou que o governo federal está fazendo uma série de ações para garantir a segurança hídrica da região. Entre elas, a Operação Carro-pipa, com mais de 6 mil pipeiros para 792 municípios, e o Programa Água para Todos, que tem uma meta de construir 750 mil cisternas até o final do ano.

— Estamos com um indicativo muito forte de que a meta será atingida. Já temos quase 600 mil cisternas — disse.

Ramos afirmou que a grande obra que o governo tem para garantir a segurança hídrica é a transposição do Rio São Francisco. Segundo ele, as obras, que estão com cerca de 11 mil funcionários trabalhando em ritmo muito forte, devem ser finalizadas no final de 2015.

Agência Senado

OS PAÍSES COM GASOLINA MAIS BARATA (E MAIS CARA)

Já pensou em pagar R$ 0,02 pelo litro da gasolina? Na Venezuela é possível abastecer o carro por esse valor. Por outro lado, na Noruega, é preciso desembolsar R$ 5,85 por litro do combustível.

De acordo com o levantamento “PainatthePump: GasolinePricesby Country”, realizado pela Bloomberg, o Brasil aparece na 39ª colocação, com o litro da gasolina saindo, em média, por R$ 3,20. Por ano, o brasileiro compromete em torno de 1,5% da sua renda na compra de combustível.

Veja abaixo os dez países onde o preço da gasolina é mais baixo e onde é mais alto:

Posição País Preço da gasolina Posição País Preço da Gasolina
Fonte: Bloomberg
1º lugar Noruega R$ 5,85 52º lugar México R$ 2,14
2º lugar Países Baixos R$ 5,65 53º lugar Rússia R$ 1,91
3º lugar Itália R$ 5,59 54º lugar Malásia R$ 1,45
4º lugar Dinamarca R$ 5,46 55º lugar Nigéria R$ 1,33
5º lugar Grécia R$ 5,27 56º lugar Emirados Árabes Unidos R$ 1,06
6º lugar Bélgica R$ 5,19 57º lugar Irã R$ 0,91
7º lugar Portugal R$ 5,12 58º lugar Egito R$ 0,60
8º lugar Alemanha R$ 5,08 59º lugar Kuwait R$ 0,48
9º lugar Turquia R$ 5,06 60º lugar Arábia Saudita R$ 0,27
10º lugar Finlândia R$ 5,05 61º lugar Venezuela R$ 0,02

 

 

 

CNBB DISTRIBUI FOLHETOS COM CRÍTICAS À GESTÃO DO GOVERNO PARA A COPA

Jornal do Brasil

A Pastoral do Turismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) vai distribuir panfletos nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo com críticas à gestão do governo para a competição. Os panfletos dão “cartão vermelho” à  inversão de prioridades no uso do dinheiro público do país para eventos como a Copa do Mundo, e critica o fato de o governo delegar responsabilidades públicas a grandes corporações e entidades privadas que se apropriam do esporte.

A CNBB ressalta, no entanto, que o governo só marcará o “gol da vitória” quando ninguém for perseguido por trabalhar em espaço público, e direitos dos consumidores e torcedores forem respeitados.

Os folhetos foram impressos em três idiomas (português, espanhol e inglês) e mostram a preocupação da Igreja com oito pontos que merecem “cartão vermelho”.

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 Folheto distribuído pela CNBB

O primeiro deles é “a exclusão de milhões de cidadãos ao direito à informação e à participação nos processos decisórios sobre as obras que foram realizadas para a Copa”. Outros pontos criticados são a remoção de famílias e comunidades para a construção de obras dos estádios ou de mobilidade, a inversão de prioridades para com o dinheiro público que deveria servir, prioritariamente, para a saúde, educação, saneamento básico, transporte e segurança.

Além disso, os panfletos falam em desigualdades urbanas e degradação ambiental, a apropriação do esporte por entidades privadas e grandes corporações.

A entidade enumera iniciativas que representam um “gol da vitória”: a garantia de que a população de bairros populares e moradores de rua tenham direito de permanecer em suas localidades; que ninguém seja perseguido por trabalhar em espaço público; que movimentos sociais não sejam criminalizados.

A CNBB afirma ainda que se “compromete a acompanhar torcedores e jogadores, nas suas demandas por momentos de espiritualidade e encontro com Deus, bem como ser presença orante durante toda a Copa”.

Padre Bráulio: O Povo de Deus precisa sair dos templos e ir para as ruas evangelizar e lutar contra a violência e as drogas

padre

O Jornal do Maranhão, publicação da Arquidiocese de São Luís, publicou na sua edição do mês de maio, uma reflexão do padre José Bráulio Sousa Aires, pároco da paróquia de São José do Bomfim. Religioso bastante conhecido e respeitado, com importantes serviços prestados ao Povo de Deus, de centenas de comunidades, principalmente da zona rural, se constituiu também como formador de consciências criticas. Sempre aberto ao diálogo, nunca escondeu, muito pelo contrário procurou sempre abertamente conversar com as mais diversas correntes politicas, desde que interesses coletivos estejam no centro do contexto da pauta.

        Diante dos avanços da violência, das drogas, da fome, da miséria e de tantas outras desigualdades sociais que destroem vidas, ele registra: “Hoje temos uma Igreja silenciada, como nunca se viu antes. Refiro-me não exatamente ao clero, mas ao estado de morte, de miséria moral, em que se encontra a comunidade cristã católica. Percebe-se que essas partes das comunidades estão fora da Igreja e também das lutas sociais. Esse silêncio, o encolhimento nos inquieta, diante dos sérios e muitos graves desafios sociais, que deveriam ser as nossas profissões de fé, exatamente no momento em que o Papa Francisco, nos pede que saiamos do nosso próprio quadrado para sermos semeadores de lutas por direitos, dignidade, paz, solidariedade em busca de uma sociedade menos desigual.”

       Devemos como cristão católicos ser protagonistas de mudanças com a organização comunitária e com lutas efetivas e responsáveis para o enfrentamento à realidade cada vez mais perversa, que vem destruindo muitas vidas, principalmente jovens, com as drogas e a violência sem precedentes. Onde o poder público é ausente, a criminalidade se instala e impõe regras, valores e padrões definidos por eles, ocasionando principalmente a destruição da família. Os problemas sociais atuais são sérios e a crise que se manifesta é sem precedentes. A Igreja do Povo de Deus precisa sair do templo e ir para as ruas evangelizar, com uma atenção maior para os mais pobres e oprimidos, para que sejam eles protagonistas das suas próprias histórias. Há muita gente por onde andamos que não está precisando de pão, mas de uma expressão de carinho e às vezes apenas uma palavra para tocar-lhe o coração, pela excessiva carência afetiva. Com o amor e compromisso voltados para a construção do Reino de Deus, podemos fazer importantes mudanças, concluiu o padre Bráulio Ayres.

Condenação de Edinho Lobão reflete negativamente na base politica do governo

ArnaldoO deputado Arnaldo Melo, presidente da Assembleia Legislativa do Estado, depois de ter colocado em pauta a sua candidatura ao Governo do Estado, que ocasionou a governadora Roseana Sarney a mudar de plano e permanecer no cargo passou a ser considerado inimigo pelo grupo Sarney.  As relações entre o executivo e o legislativo passaram a ficar mais um campo institucional. Diante da iniciativa do presidente do legislativo estadual colocar o seu nome como pré-candidato ao Senado Federal dentro do contexto da situação, começaram a surgir conspirações contra ele com intenção de tirá-lo da corrida. Como um homem experiente e conhecedor do jogo do pessoal do Sarney e dos seus escudeiros, Arnaldo Melo, depois de reunir com os deputados que lhes dão sustentação dentro do parlamento decidiu abdicar da pretensão ao Senado Federal, mas deixou bem claro que vai para as eleições em busca da sua reeleição, sem o compromisso com qualquer outra candidatura. Deixou um recado bem determinado para o pré-candidato a governador Edinho Lobão e ao deputado federal Gastão Vieira, e que pretende estar distante deles e deve ser seguido por alguns deputados que sempre foram discriminados pelo Palácio dos Leões.

                   Outras dissidências deverão surgir dentro da base governista, principalmente que estão ficando cada vez mais claras as trocas de farpas entre Edinho Lobão e Roseana Sarney. Há quem afirme, que o pré-candidato ao governo já estaria na iminência de desistir, principalmente pelas dificuldades criadas pelo governo para avançar com a sua pré-candidatura e a condenação imposta a ele pela justiça federal.

                    Não é novidade de que a governadora Roseana Sarney e seus assessores mais próximos e naturalmente com consultas feitas ao senador José Sarney e a Fernando Sarney, sobre qual o nome que teriam dentro do grupo como alternativa, caso venha a ser concretizada a desistência de Edinho Lobão. Chegam a lembrar de João Alberto, mas a maioria discorda e quando eles olham de um lado para outro, caem na realidade de que não existe ninguém e agora despontam sugestões de que o deputado Gastão Vieira possa ser a próxima opção.  A verdade é que a questão da condenação de Edinho Lobão pela justiça federal causou um certo desanimo em muitos segmentos do grupo e há muitos candidatos a deputados estaduais e federais procurando outros rumos. Com a iminência do senador Sarney não concorrer à reeleição no Amapá e a governadora Roseana Sarney com os seus pensamentos voltados para os Estados Unidos, onde deverá fixar residência antes do término do seu mandato, preocupações tomam conta da maioria dos aliados.

“Os novos direitos que nascem da multidão são assassinados”

Um dos mais influentes intelectuais marxistas deste início de século, o filósofo italiano Antonio Negri, 80, diz que o Brasil errou ao apostar na realização da Copa e da Olimpíada. Ele vê na “política dos grandes eventos” uma negação dos valores locais e da cultura das favelas.

A entrevista é de Bernardo Mello Franco

Em visita ao país às vésperas do Mundial, Negri critica as exigências da Fifa e diz que a entidade age como um instrumento donovo capitalismo globalizado. “A Fifa e o Comitê Olímpico Internacional atuam como grandes ONGs capitalistas. Mas não vão aos países para ajudar ou distribuir esmolas, e sim para buscar lucros”, afirma.

Para Negri, a cultura popular foi negada pela política dos grandes eventos, “a política de Dilma”. “Os revoltados estão certos ao avaliar a política dos grande eventos como um erro político.”

Negri fala em São Paulo nesta quinta (5), às 19h, no evento “Multitude”, no SescPompeia. Ele recebeu a Folha no Rio. Estava acompanhado por Giuseppe Cocco, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), com quem publicou “GlobaL: Biopoder e lutas em uma América Latina globalizada” (Record, 2005).

Eis a entrevista.

Quando o sr. escreveu “Império”, em 1999, Bill Clinton presidia os EUA e as torres gêmeas estavam de pé. As transformações do mundo mudaram as teses do livro?

Há um fenômeno irreversível: a globalização dos mercados e a falta de uma ordem global. Os EUA tentaram impor uma nova ordem, no que chamamos de golpe de Estado contra o Império, mas essa tentativa de impor a soberania americana fracassou.

Os ataques em Nova York foram apenas um episódio do fracasso. Mais importante foram as derrotas no Iraque e no Afeganistão, o nascimento dos Brics e de outros poderes na esfera global.

O mundo não é mais unificado sob uma única potência. Tornou-se fragmentado, fundamentalmente por poderes continentais. A crise do poder americano é extremamente forte. O soft power dos EUA ainda resiste, mas com dificuldades cada vez maiores. O último capítulo foi a reaproximação de China e Rússia nacrise da Ucrânia.

A direita nacionalista voltou a ganhar força na Europa. Como avalia este fenômeno?

O nacionalismo europeu sempre existiu como força minoritária. Não ameaça a unidade europeia. Quem a ameaça é a forma rígida de neoliberalismo imposta às populações, que protestam contra a miséria crescente, a destruição do Estado de bem-estar social, a redução dos direitos de educação e saúde.

No entanto, o crescimento da direita nacionalista, fascista, é extremamente perigoso. Não é um problema só para a Europa, mas para todos os povos. É o mesmo problema do extremismoreligioso.

O sr. demonstra interesse crescente pelo Brasil desde a eleição de Lula. Como vê a evolução do país no período?

Lula representou um momento de transformação profunda no país, em que a cidadania se alargou a novos segmentos da população. Não simplesmente do ponto de vista da liberdade, mas da igualdade econômica e social. O Bolsa Família é uma representação forte disso, como é o pleno emprego. Foi um processo profundo e em parte revolucionário, com características revolucionárias.

Em que sentido?

No sentido de um conceito de igualdade muito forte. Veja as cotasraciais, por exemplo. A experiência de Lula se juntou à sua intuição profunda sobre a modificação das relações globais. A ligação sul-sul, o fato de o país ter quebrado as relações de dependência, fundamentalmente ideológicas. Nenhum governo brasileiro, de direita ou de centro, havia feito isso. Deste ponto de vista, Lula é uma referência para toda a esquerda mundial. Para o pouco que resta da esquerda… (risos).

O Brasil acaba de viver uma onda de manifestações contra o governo e o poder em geral. Nasceu algo novo no país?

Agora não se fala mais de Lula, e sim da sucessão dele. É evidente que Lula foi mais longe do que podíamos esperar, como fazem os que estão em contato próximo com as multidões. Hoje me parece haver uma grande incompreensão da elite dirigente, em geral. Não somente do PT, mas também, e sobretudo, da opinião pública representada pela imprensa, que sempre fez oposição a Lula.

A elite do governo e a elite da imprensa não viram que a aliança construída em torno de um grande projeto de desenvolvimento, que devia ser coroado com o sucesso e a exposição internacional do país, esquecia as novas gerações que querem se expressar, querem ser protagonistas com sua cultura. A cultura formidável que vem das favelas foi negada pela política dos grandes eventos, a política de Dilma. Essa política não reconheceu a prioridade das transformações revolucionárias iniciadas por Lula.

Mas foi Lula quem lutou pelos grandes eventos, aceitando as condições da Fifa e do COI.

Então isso significa que Lula errou no último período. Dilma era ministra da Casa Civil. Mas isso não é tão importante. Quando falamos de Lula, na realidade estamos falando de uma consciência generalizada, um movimento que não é mais de um chefe, de um líder.

O Brasil viveu transformações fundamentais no povo, nas pessoas. Havia uma energia reprimida que explodiu, vinda de sindicatos e das favelas. Isso tinha que ser respeitado. Os revoltados [manifestantes] estão certos ao avaliar a política de grande eventos como um erro político. Quando os jovens das cidades dizem “Não!”, não são “foras da lei”. São pessoas que nasceram e foram produzidas pela nova lei.

A atuação da Fifa e do COI e suas exigências ao Brasil têm relação com o novo capitalismo que o sr. estuda?

Sem dúvidas, com as novas formas do capitalismo. Com certeza, muitos capitais brasileiros já foram empenhados, porque as novas formas de capitalismo não são externas aos países.

Quando se fala de Fifa ou do COI, fala-se de plataformas de agenciamento de capitais financeiros em nível mundial, que atravessam as bolsas dos países com um alvo, que neste caso é o Brasil.

O Brasil aceitou participar com suas próprias forças, negociando diretamente a entrada de capitais. Fifa e COI são como grandes ONGscapitalistas. Mas não vão aos países para ajudar ou dar esmola, e sim para fazer lucros.

As manifestações no Brasil e em outros países não são mais comandadas por sindicatos, entidades tradicionais. Qual a consequência disso?

As formas de luta agora são multitudinárias. Correspondem à nova composição do proletariado, que reúne os pobres e parte da classe média empobrecida. Os antigos sindicatos tinham uma relação fixa e contínua com camadas de populaçãooperária, industrial. Hoje o trabalho é fundamentalmente imaterial, móvel, precário.

Isso determina novas formas em que as lutas populares se expressam e recompõem novos valores. Não só salariais, mas ligados aos modos de vida, à defesa da cidade em que se vive.

Nessas novas formas de luta, o trabalhador ganha ou perde força para buscar direitos?

É uma pergunta importante, mas ainda estamos no início do processo. Até agora, os poderes não reconheceram essas lutas. Estou convencido de que os trabalhadores têm capacidade de ampliar sua força na luta por melhores salários, transporte, cultura, por tudo que está ligado à sua vida. Mas esta nova subjetividade ainda não é reconhecida, é reprimida. A polícia atira contra essas lutas. Essa repressão é um ataque aos direitos humanos. Não estão reprimindo a desordem, mas assassinando os novos direitos que nascem da multidão.

O que é ser marxista hoje?

É o que sempre foi. Os marxistas sempre estudaram as lutas das populações e usaram esses elementos para transformar a sociedade. Hoje, isso significa pôr os resultados a serviço da multidão. O dilema hoje é que o Estado cresce junto com a multidão ou se destroi contra ela.

O sr. já escreveu que deve haver um modo de reconhecer a derrota sem ser derrotado. Encontrou esta forma?

Ninguém esperava que a vitória do capitalismo sobre os movimentos dos anos 60 e 70 e sobre a União Soviética fosse uma vitória de Pirro. Hoje o mundo é mais difícil para o capitalismo do que naquelas épocas. A derrocada do comunismo abriu espaço para novos movimentos que vão para além do socialismo.

É estranho falar dessas coisas, porque parece que falamos de utopias ou de desejos vazios. O que sinto é que a luta hoje não é mais produto apenas da necessidade e da miséria, mas também do desejo, do afeto, da alegria de conquistar coisas novas. Isso é ir além da derrota.

Unisinos

Desembargador é punido por diálogo inadequado com candidata de concurso

senhoraA atitude é incompatível com a dignidade, a honra e o decoro de suas funções.

O plenário do CNJ, por maioria de votos, colocou o desembargador Jaime Ferreira de Araújo, do TJ/MA, em disponibilidade com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço, por diálogos “inadequados, impróprios e de cunho pessoal”, com candidata de concurso para ingresso na magistratura do Estado.

De acordo com a conselheira Maria Cristina Peduzzi, relatora do PAD, os fatos ocorreram quando o desembargador integrava a comissão do concurso. A apuração constatou que, durante a realização de prova oral, o desembargador dirigiu-se à candidata e perguntou por que ela não atendera a ligação telefônica feita por ele. Esse diálogo foi gravado, segundo relatou a conselheira. Para ela, o desembargador deveria se declarar impedido de atuar em qualquer ato relacionado à candidata.

“Após a realização da prova oral, o desembargador não poderia mais atuar em qualquer ato administrativo que envolvesse essa candidata, pois estabelecera diálogos inadequados, impróprios para o contexto do certame. Dessa forma, já estaria configurada sua suspeição.”

A relatora afirmou que “o desembargador agiu de forma incompatível com a dignidade, a honra e o decoro de suas funções”. Entretanto, “por tratar-se de um acontecimento isolado”, ela aplicou-lhe a pena de disponibilidade compulsória com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço.

 Migalhas

O Papa e a prisão perpétua de menores nos Estados Unidos

?????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????Quinhentos jovens detidos em prisões dos Estados Unidos, condenados à prisão perpétua quando ainda eram menores de idade e sem possibilidades de liberdade condicional, escreveram cartas ao papa Francisco, que se declarou “profundamente” comovido pelos relatos. Bergoglio pediu para que rezem por ele, assim como rezará por eles. A situação dos menores condenados à prisão perpétua, nesse país, foi motivo de numerosas reivindicações de organismos internacionais de direitos humanos.

Os quinhentos jovens, em sua maioria de origem hispana, escreveram cartas em que relatam suas vidas, segundo publicou o periódico dos jesuítas American, em uma nota que foi citada pela agência ANSA. As cartas foram reunidas pelo capelão penitenciário e diretor executivo do Jesuit Restorative Justice Initiative, Michael Kennedy.

“Li as cartas que você me fez chegar, gentilmente, de cada lugar dos Estados Unidos, por parte de centenas de garotos condenados à prisão perpétua, em tão jovem idade, sem a condicional”, respondeu o Papa, em sua resposta ao capelão. E acrescentou que “suas histórias e o pedido destes de que esta forma de sentença seja revisada à luz da justiça e da possibilidade de uma reforma e reabilitação, comoveram-me profundamente”.

A condenação à prisão perpétua para menores de idade por crimes diferentes do homicídio é denunciada por diferentes organizações de direitos humanos, que destacam que os Estados Unidos são o único país do mundo que aplica semelhante pena nesses casos. Devido às reiteradas denúncias sobre esta situação, nos últimos anos alguns estados, como a Califórnia, eliminaram as condenações à prisão perpétua para menores.

“Comovi-me muito ao ler as cartas dos jovens, por favor, diga-lhes que rezo por eles ao Senhor Jesus, que ama cada um deles com todo o seu coração”, escreveu o Papa, no último dia 12 de abril, ao capelão de uma prisão juvenil de Los Angeles, onde os reclusos cumprem pena, segundo publicou o jornal espanhol ABC.

Vários dos jovens condenados à prisão perpétua, em sua maioria hispanos, escreveram cartas ao Papa ao saberem que, no dia 28 de março, iria celebrar os ofícios da Quinta-Feira Santa e lavar os pés de doze reclusos e reclusas da prisão juvenil de Roma.

Os jovens presos norte-americanos, na prisão Barry J. Nidorf, em Sylmar, ao norte de Los Angeles, receberam nessa mesma Quinta-Feira Santa a visita de doze noviços jesuítas que lavaram os pés de doze detidos.

Um dos jovens, segundo o jornal, escreveu: “Querido papa Francisco, acredito que seja um homem humilde. Quando ler esta carta já terá lavado os pés de outros garotos como eu. Escrevo-lhe esta carta porque me dá esperança”.

Em sua carta ao padre Kennedy, o Papa pede aos jovens que lhe escreveram para que rezem por ele e conclui enviando-lhes sua bênção “com gratuidade e carinho”.

Unisinos

 

Alerta da ONU: 70% da população mundial não tem segurança social

Mais de 70% da população mundial não estão cobertos por uma proteção social adequada: a afirmação é de um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A reportagem é do sítio Rai News

De acordo com os dados do “Relatório sobre a Proteção Social 2014/15”, apenas 27% da população mundial têm acesso a uma segurança social completa.

Para a OIT, os motivos para reforçar a proteção social são ainda mais óbvios neste período de incerteza econômica, de baixo crescimento e de crescente desigualdade.

No entanto, a partir de 2010, muitos governos optaram pela consolidação fiscal. As medidas de saneamento orçamental não se limitaram à Europa. “Na verdade, nada menos do que 122 governos reduziram os gastos públicos em 2014, incluindo 82 países em desenvolvimento”, destacou Isabel Ortiz, diretora do Departamento de Bem-Estar da OIT.

Essas medidas dizem respeito, dentre outras coisas, à reforma das pensões, dos sistemas de saúde e de segurança social, que muitas vezes envolveram uma redução da cobertura ou do financiamento desses sistemas.

“De fato – acrescentou Ortiz – o custo da consolidação fiscal e da adequação estrutural é transferido para as populações, em um momento em que o trabalho é raro, e o sustento, mais necessário do que nunca.”

Unisinos

Abusos sexuais: ”Reformas na Igreja estão surtindo efeito”

Ao longo dos últimos dez anos, o Vaticano reduziu ao estado laical 848 sacerdotes réus de abuso sexual. Segundo o padre jesuíta Hans Zollner, membro da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, esses números são depositários de uma dura realidade, mas também de esperança e de uma férrea vontade de remover a podridão que, nos últimos anos, manchou a Igreja.

A reportagem é de Alessandro Notarnicola,

“Esses números demonstram que as reformas do sistema judiciário dentro da Igreja estão surtindo os seus efeitos”, afirmou o padre Zollner ao site RomeReports.

“É preciso acrescentar que agora podemos ver o resultado positivo da vontade do Papa Bento XVI. Podemos ver que a justiça existe”, acrescentou o sacerdote alemão, enfatizando o aspecto penal e os procedimentos tomados contra os culpados.

Mas, como já foi dito muitas vezes, a Pontifícia Comissão tem um quantitativo relativamente consistente de trabalho para fazer: em primeiro lugar, é preciso tentar medir o porte dos abusos cometidos por eclesiásticos de todo o mundo.

“Abusos sexuais foram registrados em toda a parte: em todos os países, talvez não em todas as dioceses e congregações religiosas, mas temos os dados provenientes de todos os países do mundo”, continua o padre Zollner, motivando o projeto de contar com especialistas da Ásia e África dentro da comissão.

Além disso, o jesuíta destaca a essencialidade de definir, de um ponto de vista canônico, a responsabilidade de um bispo e de um provincial considerados negligentes na gestão de um sacerdote acusado de abusos.

A Igreja está implementando medidas drásticas em escala global (onde por essa expressão deve-se entender o conjunto de todos os lugares em que foram denunciados abusos cometidos por expoentes do clero), especialmente desde o dia 25 de março de 2005, quando, por ocasião da Via Sacra no Coliseu, o mundo foi literalmente abalado pelo poder das meditações escritas pelo cardeal Joseph Ratzinger.

Particularmente duro, de fato, foi considerado o comentário composto para a Nona Estação, na qual o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé falou de “sujeira na Igreja” e de uma Igreja que “nos parece um barco prestes a afundar, um barco que mete água por todos os lados”.

Muitos comentaristas consideram que, com essas palavras, o então cardeal prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé se referia quase abertamente ao escândalo dos padres pedófilos que explodiu não muito tempo antes nos EUA e na Irlanda.

Dentre outras coisas, é bom lembrar o episódio inédito do maio posterior, quando Bento XVI, como um pai intransigente que trabalha pelo bem de toda a família, revogou todas as faculdades sacerdotais de Gino Burresi, fundador dos Servos do Coração Imaculado de Maria, por abusos sexuais contra alguns jovens seguidores.

As acusações de “encobrimentos” contra o Vaticano, amplificadas notavelmente pelos órgãos de imprensa depois da eleição de Joseph Ratzinger, que começou a luta contra o “pecado e o crime da pedofilia e dos abusos”, começaram dessa forma a diminuir.

Essa linha de “tolerância zero”, iniciada por Bento XVI, é hoje perseguida com tenacidade e com um forte espírito de humanitas cristã pelo Papa Francisco, que instituiu a Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, que foi anunciada no dia 5 de dezembro de 2013. Foram chamados a fazer parte dela: a Drª. Catherine Bonnet (França); a Srª. Marie Collins (Irlanda); a Profª. Sheila Hollins (Reino Unido); o cardeal Seán Patrick O’Malley, OFM Cap (Estados Unidos); o Prof. Claudio Papale (Itália); a Profª. Hanna Suchocka (Polônia); o Pe. Humberto Miguel Yáñez, SJ (Argentina); e o Pe. Hans Zollner, SJ (Alemanha).

A principal tarefa dessas pessoas é preparar os estatutos da comissão, que definirão as suas competências e as suas funções. A mesma comissão, no entanto, será posteriormente integrada por outros membros, escolhidos nas várias regiões geográficas do mundo.

O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi, SJ, comentou que, com a instituição dessa comissão, “o Papa Francisco deixa claro que a Igreja deve colocar a proteção dos menores entre as suas prioridades mais altas (…). Na certeza de que a Igreja deve desempenhar um papel crucial nesse campo e olhando para o futuro sem esquecer o passado, a comissão adotará uma abordagem múltipla para promover a proteção dos menores, que incluirá a educação para prevenir a exploração das crianças, os processos penais contra as ofensas aos menores, os deveres e responsabilidades civis e canônicas, o desenvolvimento das ‘melhores práticas’ que foram identificadas e desenvolvidas na sociedade como um todo”.

“Conscientizar as pessoas” é sinônimo de prevenção dos abusos sexuais, para que não se repitam no futuro. O Pe. Zollner, além desse princípio, lembrou que, geralmente, leva anos para que uma vítima chegue a denunciar os abusos. Por isso, acrescentou que, graças a medidas recentes, as denúncias diminuíram significativamente. “Essa é uma boa razão – concluiu – para seguir o caminho traçado por esta nova Pontifícia Comissão instituída pelo Papa Francisco no dia 22 de marco de 2014.”

Os membros da comissão se reuniram na presença do Santo Padre no dia 1º de maio passado para a sua primeira reunião. Na declaração emitida na conclusão do encontro, os membros da comissão escreveram: “Desejamos expressar a nossa profunda solidariedade a todas as vítimas que sofreram abusos sexuais quando crianças ou como adultos vulneráveis, e desejamos tornar público que, desde o início do nosso trabalho, adotamos o princípio de que o bem de uma criança ou de um adulto vulnerável é prioritário no momento em que seja tomada qualquer decisão (…) Respondendo às solicitações do Santo Padre, essas discussões foram dedicadas à natureza e aos objetivos da comissão e à ampliação do número dos membros, de modo a incluir pessoas de outras áreas geográficas e de outras áreas de competência”.

Nos estatutos, em conclusão, serão apresentadas propostas específicas “para enfatizar as formas para sensibilizar as pessoas sobre as trágicas consequências dos abusos sexuais e sobre as consequências devastadoras da falta de escuta, da falta de relatórios de suspeita de abusos e da falta de apoio às vítimas de abusos sexuais e às suas famílias“.

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