I
Ao relembrar São Luís,
Do alto não vejo mais,
Aquela paisagem antiga
Dos lindos babaçuais.
II
O babaçu é uma palmeira
De grande utilidade.
Sabemos dela tão pouco
Isto é que é a verdade.
III
Do caule grosso e tão lindo
Bem no alto o palmito
Saboreado naturalmente
É de um branco tão bonito.
IV
Da palha esvoaçante
De um verde exuberante
Impulsionada pelo vento
Parece um espanador
Se não fosse a maldade
Do povo cá da cidade
Sem ânimo de protetor.
V
Serve para construir casas
No campo ou na cidade
Sendo feias ou bonitas
Tendo tanta utilidade.
Mas a de talo batido,
Confesso, é um primor.
VI
Serve também ainda
Na construção de galinheiros
É teto dos mais usados
Por custar pouco dinheiro.
VII
O talo sem suas palhas
Faz-se a cerca do quintal
E com muita habilidade
Faz-se também o Girau.
A caça quando abatida
É pelada na Água quente
E feita no leite de coco.
Que prazer que a gente sente
VIII
A palmeira bota um cacho
Incrustado de coquinhos
Cada um no seu lugar
Com espaço e perfeição
Que só mesmo o criador
Para tanta exatidão.
IX
O coco depois de maduro
Cai do cacho e vai ao chão
Servindo de alimentos
Para pacas e cutias.
E tantos outros roedores
Querem dele uma fatia.
X
Depois vem a quebradeira
Que coloca ao machado
E com uma pancada certeira
Abre o coco e tira a amêndoa
Fazendo dali grosso leite
E quando vai pra panela,
Se transforma em azeite.
XI
O endocarpo é usado
Na alimentação humana
Em doses tão diminutas
Cura a diverticulite.
Não afetando no gosto
Nem quebra do apetite.
XII
Salve as pacas e cotias
Por serem grandes cultivadoras
Levando o coco ao dente
Para um lugar distante
Enterrando aquele coco
Para uma nova refeição
Esquecendo-se do lugar
Vindo uma nova plantação.
XIII
Se essa palmeira bela,
Tem tanta utilidade
Porque do não preserva-la
Quer no campo ou na cidade
Vamos cumprir a lei
A de preservar, preservar
E preservar de verdade.
XIV
Um caso interessante
Bem aqui na capital
Na floresta próxima a UEMA
Existia um babaçual
Tão bonito de se ver,
Não levando muito tempo
Para tudo acontecer.
XV
Criaram a cidade olímpica
Para beneficiar famílias de baixa renda
Devastando os babaçuais
Sem dó e sem piedade.
Não sei se tudo valei
Isto é que é a verdade.
XVI
Criaram a cidade olímpica
Ou operária talvez
Abrigando os baixa-rendas
E devastando de uma vez
Os babaçuais existentes
Que tombavam sem proteção
Da lei que só aparente,
Na prática inexistente.
XVII
A realidade que avançava
A grande devastação
O sabiá gorjeava
Para impedir a invasão
Protegendo o seu ninho
da poeira e da fumaça
do barulho dos tratores
usados na devastação.
XVIII
A palmeira ia tombando
E o sabiá gorjeando
Na proteção do seu ninho
Formando um couro incessante
Maneira de dizer não
Lavrando seu protesto
Na grande devastação.
XIX
A devastação avançava
Ameaçava outros vizinhos
Maribondos e passarinhos
Abelhas africanas de esporão
Atacavam os tratoristas
Que logo baixava a tela
Acelerando as máquinas
Acabando com a novela.
XX
A devastação continuava
em ritmo acelerado
E o sabiá combatente
Não parava de cantar,
Vendo que nada valia
Resolveram atacar, e,
Num piado diferente
Como se pedisse a Deus
Para proteger daquela devastação
Até que a ficha caiu
O tratorista entendeu
Aquele sabiá cantor
Queria proteger os filhinhos
Que estavam eu seu ninho,
Bem no alto da palmeira
Tratou de desviar o maquinário e atender o canto
Ai então entendidos operário e sabiá
Que numa forma elegante ,não parava de cantar.
XXI
Assim estava estabelecida uma trégua
Não derrubando a palmeira
Vivendo a vida inteira
Para sua família salvar.
XXII
O sabiá tão bonito
Num gorjeio refinado
Deu adeus ao sol nascente
Aos frutos que sempre comia
Aos escombros das árvores mortas
Que defendeu com valentia e…..
Deu graças ao Criador
Por lhe transformar
Num vencedor.
XXIII
Depois do susto passado
Foi tomar banho de riacho
Quase não localizando
Por ter ido tudo a baixo,
Restando uma poça imensa
Para aliviar o cansaço
E mostrar para os seus filhos
O que sobrou desse rio
Transformado em riacho.
XXIV
Com a devastação
Surgiram novas vizinhanças
O gavião caçador cercava tudo ao redor
Para comer os calangos cortados pelo arado
E aves desprotegidas que do ninho não voavam.
XXV
Ficando de tudo isso,
Somente a amarga lição
Quem migra não é só sertanejo
Depende da ocasião
Em situações adversas
Só Deus tendo a compaixão
Podendo modificar
A vida do cidadão
Quer seja rico ou pobre
Ficando uma grande lição!
De embalar os seus sonhos
Como pomba de arribação
Que faz voos imensuráveis
Mais de fome não morre não.
Em briga não vá se meter,
Permaneça assim pacata
Alegre, sempre a cantar
É Deus é quem protege a todos
O resto é só esperar.
Adeus, adeus, meu cantor
Foi mudar para floresta
Com a família reunida
Até dar adeus à vida
Transformando tudo em festa.
Assim, sábio e sabiá
Podem viver como irmãos
Um respeitando o outro
E adeus a devastação.
*José Olívio Cardoso Rosa é advogado, poeta e escritor