Flip: fala-se de ditadura porque a polícia ainda mata e tortura, diz Ivo Herzog

O escritor Marcelo Rubens Paiva e o engenheiro Ivo Herzog defenderam, durante a Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), a educação em direitos humanos e o exercício da memória sobre os momentos de chumbo da ditadura brasileira para que nenhum filho perca o pai prematuramente vítima da violência no país.

“Essa não é uma conversa do passado, porque a polícia continua matando e torturando”, disse Ivo. “Precisamos que haja a revisão da Lei de Anistia para acabar com o DNA de impunidade da polícia. Seis jornalistas já foram assassinados no Brasil somente neste ano e o Brasil é o quarto país em que mais se mata jornalistas”.

Para Marcelo Rubens Paiva, a ignorância de jovens e de confusão evidenciada nas redes sociais em relação à ditadura mostra que a divulgação sobre o que ocorreu nesse período deve ser intensa e contínua. “Vemos jovens pedindo a volta da ditadura. Precisamos urgentemente repensar esse material didático que está sendo ensinado”, disse.

Marcelo fez uma analogia à morte do pai com a do assistente de pedreiro Amarildo, desaparecido desde julho do ano passado após ser levado de casa por policiais militares na Rocinha, favela da zona sul do Rio de Janeiro. “Amarildo tinha cinco filhos, meu pai tinha cinco filhos, Amarildo foi levado de casa, meu pai também. O corpo do Amarildo foi levado de madrugada por uma viatura militar, assim como meu pais. Meu pai não tinha nenhuma acusação contra ele e o Amarildo também não. A morte dele foi determinada por um major, assim como o meu. O Brasil continua o mesmo”, disse Marcelo.

Marcelo Rubens Paiva e Ivo Herzog participaram ontem (1º) da mesa “Em Nome do Pai” no circuito alternativo da Flip e que reuniu os filhos de duas vítimas célebres da ditadura, Rubens Paiva e Vladimir Herzog. O mediador foi Zuenir Ventura.

“Temos no nosso DNA a responsabilidade de estar sempre lembrando o que foi a ditadura,” declarou Marcelo, que tinha 11 anos quando o pai, Rubens Paiva, deputado cassado pela ditadura, foi levado pela polícia de sua casa no Leblon, zona sul do Rio, em 1971. “Meu pai recebeu um telefonema e em meia hora invadiram nossa casa com metralhadoras. Acharam que era um aparelho [de resistência à ditadura] e descobriram que era uma casa de classe média com pais, cinco filhos e uma babá. Meu pai foi levado e militares ficaram na casa e quem chegava era preso. O namoradinho de uma irmã que tinha 15 anos foi preso, um amigo que foi fazer trabalho de grupo com minha outra irmã foi preso”.

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